Blog do Juarez

Um espaço SELF-MEDIA


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LAÇOS FORA, O RETORNO

Colagem

Outro dia fiz uma postagem em que manifestei o desconforto com a apropriação das cores e símbolos nacionais pela direita. Deu alguma polêmica pois há quem acredite que as cores e os símbolos devem ser “retomados”, não “entregues de bandeja” para os “nacionalistas reaças”. Eu particularmente sinto e já se começa a perceber, que há um sentimento generalizado e uma movimentação no mesmo sentido, por uma revisão dessa símbologia.

Não é incomum em todo mundo e períodos esse tipo de revisão, nos acostumamos com o verde e amarelo como representativo, com aquela “história mal contada” de verde das matas e amarelo do ouro e riquezas naturais, quando na realidade o verde na bandeira brasileira representou originalmente a casa de Bragança e o amarelo a casa dos Habsburgo, ou seja, a família imperial brasileira. Mais que a própria família imperial, o verde e amarelo representava um projeto aristocrata de nação, quando se fez independente da metrópole portuguesa, sem contundo uma ruptura sequer na monarquia que era a mesma… sem grandes mudanças para o povão, “mudamos” de colônia escravagista de mais de 3 séculos, para império escravagista por mais 67 anos.

Nem a abolição da escravidão nem a República foram suficientes para “refundar” a nação, seguimos mais de 130 anos sob as cores imperiais, mas não apenas sob elas, sobretudo sob um pensamento elitista, excludente e não menos repleto de coloniedades (e não que eu as vezes não me divirta com algumas coisas burguesas/nobiliárquicas).

Não à toa vemos hoje um presidente da República e não sei quantas pessoas sem nenhum “pedigree imperial” cultuado a bandeira imperial, não à toa o amarelo dos Habsburgo, que virou “canarinho” no orgulho nacional do imperialismo futebolístico de outros tempos (e não que não tenhamos mais “imperadores”, “reis” e outros “nababos de chuteiras”) e migrou para representação da paradoxal união da “alta toscolagem” com a”baixa toscolagem”, todos compartilhando o mesmo trevoso fervor e espírito nefasto e com as mesmas cores que um dia acreditamos que eram na verdade nossas, de todos nós, mas de certo não são mais.

Essa invenção chamada Brasil, que boa parte acredita que começou com um tal de Cabral chegando ao que ele inicialmente nominou de “Santa Cruz/Vera Cruz”, que se expandiu sob as cores da coroa portuguesa em seus estados americanos, mas outros acreditam que só passou a existir praticamente com a independência, de um jeito ou de outro teve várias bandeiras e cores ao longo do tempo, porém a ruptura do “laços fora” com o fim do Brasil colônia, não se repetiu com o fim do Brasil império… está aí para todo mundo ver.

Por mais apego e afetividade que tenhamos aos nossos símbolos, parece que chegamos à uma nova bifurcação de nossa estrada nacional, incontornável ao menos a discussão do que fazer com eles. Conforme diria proféticamente Eduardo Cunha no ato que abriu a “Caixa de Pandora” desses novos tempos, “Deus tenha piedade dessa nação”…


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Por quê os Orixás se comportam diferente e se apresentam distintamente em África, Caribe e Brasil ?

Yemanjá em terra, na Nigéria, Brasil e Cuba.

Logo de início deixo claro que é apenas uma reflexão minha, uma hipótese levantada a partir do meu conhecimento sobre as religiões de matrizes africanas enquanto estudioso/ acadêmico e praticante neófito (há alguns anos), não a partir dos “segredos” e fundamentos que só pertencem aos sacerdotes e sacerdotisas.

Orixás nas américas e caribe vieram nos oris dos traficados de África. Assim como os nossos ancestrais tiveram que se adaptar ao novo mundo as formas de culto também… .

Não são os Orixás feitos dos Orixás dos Babas e Yas ? Não conformariam linhagens com características “hereditárias” ? de quantos “oris originais” saíram os santos afrobrasileiros ? Isso explicaria o “padrão” que temos aqui ? diferente dos africanos ou mesmo dos caribenhos, sobretudo os cubanos, cujas características são parecidas entre si, mas um tanto diferente dos que vem à terra no Brasil ??? .

Outra questão que se coloca ante algumas afirmações “puristas” que visam colocar as práticas em África como “preferenciais e verdadeiras tradições a serem seguidas” é : As formas de culto em África permanecem as mesmas de 500 anos atrás ? de certo não, inclusive algo do perdido por lá, aqui foi preservado, mas como lá, também aqui ocorreram mudanças circunstanciais… .

Não existe “pureza” em se tratando de cultura mas sim tradições e isso inclui as relações e práticas do místico-sagrado, no entanto é bom lembrar que toda tradição é uma invenção, uma construção ao longo do tempo e do espaço, que agrega, abandona e substitui elementos além de mesclas com elementos de outras culturas que com o tempo passam a ser vistos como parte natural da tradição sem maiores questionamentos.

A natureza é forte mas até ela muda ou é mudada, por vezes em alguns aspectos “controlada”. Todo fogo é incontrolado/ incontrolável ?, toda água só vai aonde quer e como quer ? não se pode “obrigar” uma nuvem a fazer chuva ?, o vento não pode levar um barco a um destino ? não pode ser produzido em forma de jato ? não existem “quebra-ventos” ?, o ar não pode ser resfriado, aquecido, canalizado? então…

Isso não quer dizer que a natureza seja absolutamente controlável e sabemos muito bem que não, tampouco as forças naturais ou sobrenaturais.

Se partirmos do pressuposto que “nada se controla” das forças ou energias da natureza ou que nada funciona fazendo um pouco ou mesmo medianamente diferente, então teríamos um grande paradoxo, pois não existiria nem tecnologia, muito menos mística… nem aqui, nem no Caribe, nem em África… 🤷🏿‍♂️


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Capitães do Mato tinham patente…

Em uma descoberta da minha emérita orientadora sobre patentes militares no Pará colonial, onde o foco era uma de “Alferes dos Índios”, notei na fonte exibida também uma outra de “Capitão do Mato”. Não sou muito fã de Colônia e Império, embora tenha até pesquisado sobre militares negros nos ditos períodos, nunca me ocorreu porém que “Capitão do Mato” fosse um “posto” de fato e obtido por patente, imaginava ser só uma referência de ofício e um tratamento popular dado aos caçadores de escravizados fugidos. Com a atenção chamada fui pesquisar e de fato, no Brasil colonial os capitães do mato tinham patentes, emitidas pelos governadores das capitanias ou mesmo pelo Rei. Outros pontos interessantes são que, diferente do senso comum, o capitão do mato não necessariamente era um “profissional liberal” que trabalhava sozinho, como sugere o famoso quadro de Rugendas ou como vemos nas novelas de época da TV. Na verdade existiram milícias chamadas “Corpos de homens do mato”, aonde não apenas atuavam em grupos organizados, como havia uma hierarquia ao estilo militar, com Soldados do mato, Cabos do Mato, Capitães do Mato, Sargentos-mor do Mato e Capitães-mor do Mato.
Por mais que a gente estude, sempre “come mosca” em algum sub-assunto e todo dia a gente aprende… ☺️, então bora compartilhar.


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Coringa: a ascenção dos palhaços medíocres e enlouquecidos.

Ao sair do cinema prometi que ia ter “textão”, agora acho que não será assim tão extenso, mas de certo minhas impressões e reflexões estarão nas linhas abaixo.

Não vou fazer redundantes loas à atuação magnífica do protagonista dessa última versão do velho “Joker”, todas anteriores tiveram suas impressionantes e inovadoras atuações, Phoenix é “o melhor da vez”.

O filme é todo “maravilhoso” em todos os aspectos, será um “celeiro de oscares”, então vou direto às minhas impressões e reflexões.

O filme é TODO do Coringa, não notei uma única cena aonde ele não estivesse “presente” ou em perspectiva, até nos “flashbacks” lá estava ele. A primeira conclusão a que cheguei é que o Coringa é um produto das circunstâncias, o resultado de uma infância cruel, de uma “vida perdedora” e de um ambiente hostil e desumanizador, não descartada a sua própria loucura, que até poderia ter ficado sob controle, não fosse a insistência da vida em traze-la ao exterior e potencializa-la ao extremo.

Daí que oscilei entre a empatia inicial com o personagem e o horror com o que se tornou no processo, Coringa é um vilão desprezível e já pouco importa se foi vítima das circunstâncias, é um louco desnecessariamente cruel.

Agora, o que me tocou especialmente, é o link com o contexto em que vivemos. Impossível não associar com o Brasil de hoje, o símbolo que o Coringa se tornou dos frustrados medíocres e “justiceiros” palhaços de Gotham City (não sei se isso pode ser considerado Spoiler, mas não tem como eu falar de um filme sem citar minimamente coisas que ocorrem nele. Ademais penso que isso não atrapalha em nada, pelo contrário, como diz essa matéria da Rolling Stones).

Como não ligar a imagem de um “líder palhaço”, medíocre e violento, quando temos hoje no comando da nação um líder que se distinguiu por uma risada, piadas sem graça de “tiozão do pavê”, uma “tosquice orgulhosa”, defesa de pautas violentas e tem o apelido de BOZO (justamente um palhaço célebre) ???? .

Me impressionou, o que os atos violentos do Coringa, mesmo os não premeditados fizeram afluir na população frustrada de Gotham, a “identificação” e aprovação popular revelou que ele não estava só, ao “subirem a hashtag” #somostodospalhacos, eu vi o meu país de hoje, com uma parte da população ensandecida e agindo como “gado” em um estouro da boiada.

Quando esse “gado” se sente representado e animado por uma liderança, ele começa a atuar como a conhecida analogia do “Guarda da esquina”, a partir dos seus exemplos, discursos, ou ao menos o que imaginam ser as mensagens expedidas. O ódio que o Batman nutre pelo Coringa, não foi por um ato direto dele, mas por ele provocado. Essa ascenção dos palhaços empurra Gotham City para o caos, para a ditadura da mediocridade, da tosquice e da necropolítica.

Gotham City é aqui.


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DRA. ODILIA LAVIGNE, UMA MULHER PARA SER LEMBRADA

Registrando e deixando aqui link para texto de 2010, produzido por Maria Luiza Heine e publicado no seu Blog “Ilheus com amor”, sobre a primeira mulher negra formada médica no Brasil, em 1912, a baiana Odília Teixeira Lavigne, filha do médico negro baiano José Pereira Teixeira. Siga o link.

https://wp.me/pkOAV-e4


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Voto negro no Brasil

Escala proporcional de tempo – Maria Vitória di Bonesso

O assunto aqui é rápido. Fizeram uma ilustração para dar uma dimensão da história e avanços legais dos negros no Brasil, logo apareceu um monte de gente (especialmente branca) reclamando que o gráfico estava errado e que “nunca houve” lei que impedisse o voto dos negros, principalmente após a abolição e o início da República.

Entendam que o racismo no Brasil sempre foi eficiente e nem sempre aberto… quando se fala em voto negro em 34, se está falando do voto realmente livre e generalizado. Muito embora desde a Constituição de 1824 em tese homens livres fossem iguais , a coisa não era bem assim:

1- Escravos não votavam, todos eram negros…

2- Ex-escravos, ou seja, os libertos não tinham direito ao pleno voto, só ao voto primário, nem podiam ser votados.

3- Os negros nascidos livres podiam em tese votar e serem votados, mas o voto censitário colocava uma barreira de renda que eliminava praticamente todos eles.

4- Com o fim da escravidão e o início da República enfim todos pareciam em tese livres e eleitores, mas o voto ainda era proibido aos menores, aos soldados, as mulheres e aos analfabetos (cuja esmagadora maioria era negra) em 1890 o Brasil tinha coisa de 12,2 milhões de habitantes maiores de 5 anos, pouco mais de 9 milhões eram pretos e pardos, os analfabetos coisa de 10 milhões (82%), fácil concluir que entre os pouco mais de 2 milhões de alfabetizados poucos eram negros… . Em 1940 o Brasil tinha 23,7 milhões de habitantes, os analfabetos eram coisa de 13,2 milhões (61%), enquanto negros eram 14,7 milhões (62%) da população. Percebe-se que mesmo após 1934 a população negra supera em pouco mais de um ponto percentual a analfabeta e não eleitora, não quer dizer que não houvessem negros alfabetizados e eleitores e não-negros analfabetos e não eleitores, mas que sob o critério do analfabetismo praticamente se excluia eleitoralmente quase toda a população negra. Assim é a desigualação racial no Brasil, o motivo é sempre “outro” que não o racial, mas os alvejados…

(Dados do IBGE)

5- Isso permaneceu durante toda república velha até os anos 30, quando as mulheres ganham o direito ao voto, mas os analfabetos não… . Até então havia também outro dispositivo que dificultava a participação política negra, a necessidade que os políticos eleitos fossem “confirmados” pelas casas legislativas, isso excluiu vários candidatos negros vencedores de assumirem mandatos, na prática “anulando” os votos de seus eleitores óbvia e majoritariamente negros… . Foram embarreirados nomes como Eduardo Ribeiro, eleito Senador pelo Amazonas em 1897 e Manoel da Motta Monteiro Lopes, eleito e não confirmado duas vezes seguidas, só logrando tomar posse como Deputado Federal pelo então Distrito Federal em 1909, após mover uma campanha nacional e internacional pelo seu reconhecimento. Monteiro Lopes foi objeto da minha dissertação de mestrado.

Depois da CF de 1934 o voto se “universaliza”, apesar de ainda excluir os analfabetos cuja maioria era negra, já não se restringia e “anulava” a posteriori a vontade do negros com status de eleitor.

É importante ao se discutir e principalmente antes de negar a histórica obstaculização negra brasileira e “corrigir” as manifestações de pesquisadores e ativistas, entender de onde vem seus argumentos e critérios, simplesmente dizer que “nunca houve lei” ou “impedimento explícito” é desconhecer e menosprezar a realidade.

P.S Sei que alguns vão reclamar que o título remete à uma análise não apenas histórica da evolução do direito de voto, mas à uma análise de como se deu e dá a construção e alcance do voto negro. Tudo bem, é possível, mas em outra ocasião… .


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A crise venezuelana e o Brasil

Car@s amig@s ✋🏿. Reconhecer as razões históricas, econômicas e geopolíticas da questão e os óbvios interesses estadunidenses, não implica em não enxergar a pilhagem nacional e enriquecimento ilícito da cúpula bolivariana da Venezuela, muito menos justifica a mão de ferro, miséria e opressão a que submeteram o povo venezuelano.

A falta de legitimidade de Maduro et caterva é real a partir do momento que desviou a rota inicial traçada por Chávez, que tinha verdadeiro apoio popular, não apenas por carisma e populismo, mas por resultados sociais efetivos, coisa perdida faz tempo, e piorada pelas fraudes e chantagens eleitorais, além da quase completa tomada das instituições democráticas a fim de manter à todo custo o poder.

Não caríssimos, desapoiar e rechaçar o regime Maduro não é simplesmente coadunar com o imperialismo yankee, é esperar que a Venezuela saia do atual pesadelo e ao menos tenha chance de logo à frente poder soberanamente ao menos escolher o “menos pior” .

Não vale a pena em nome de um antimperialismo “absoluto” fazer sofrer um povo todo, até porque mesmo hoje, com Maduro fazendo suas bravatas antiamericanas, a Venezuela já “entrega” 60% de sua exportação de petróleo para os EUA e praticamente 40% para Rússia, China e Cuba, cadê o antimperialismo ai ?

A PDVSA está tão saqueada e quebrada que, se a OPEP resolver aumentar a cota de produção para reduzir o preço do barril a fim de melhorar as vendas, a PDVSA não consegue…, e vai piorar ainda mais a situação.

O petróleo venezuelano não está sendo uma riqueza em prol do povo venezuelano, mas uma maldição sobre ele.

Agora, importante lembrar que o papel do Brasil no conflito (que deveria ser outro), tende ao de ser “peão” dos interesses estadunidenses, isso em nada nos interessa, pelo contrário, se os EUA de Trump querem meter as botas à todo o custo na Venezuela, que assumam e façam a custa do sangue dos seus, não dos nossos…, não somos “soldadinhos de Trump”, por mais que alguns se esforcem para parecer isso.


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Entenda o que tem a ver a guerra na Síria com o Brasil e Lula.

Muita gente não entende a guerra da Síria muito menos a relação do Brasil com ela, então vou tentar dar uma esclarecida básica “didática”.

Primeiro o contexto. A Síria está naquela “região complicada” do mundo conhecida por oriente médio. Cheia de conflitos milenares por conta de questões étnicas e religiosas, mas também por territórios, recursos naturais e de comércio. A partir do Séc. XX principalmente por causa do petróleo que abunda em alguns países na região. Hoje é governada por um presidente, Bashar Al-Assad, que já foi considerado “moderado” e por isso apoiado pelos norte-americanos, de olho nos seus interesses na região, só que Assad acabou virando um ditador violento, tendo problemas de insurgência interna, com vizinhos e também com o Estado Islâmico, movimento terrorista que tomou parte de seu território.

Segundo, a guerra. Nesse contexto já explicado, o presidente ditador Assad, começa a reprimir fortemente as tentativas de tirá-lo do poder e abre frentes de combate contra os insurgentes, os vizinhos e o Estado Islâmico, incluindo ai atos desumanos de perseguição e massacre contra partes da população civil síria, apanhada no meio de todo esse fogo cruzado, Assad é acusado de inclusive usar armas químicas. Os americanos deixam de apoiá-lo e passam a querer tirá-lo do poder apoiando os insurgentes (rebeldes) e formando uma coalizão com outros países com interesses na região como os britânicos e os franceses, passando a atacar alvos sírios, em especial instalações em tese relacionadas com armas químicas, tentam produzir também uma área de exclusão aérea a fim de evitar bombardeios.

Ai é que entram os russos, que também tem muitos interesses na região, principalmente petróleo…, tanto para seu uso, quanto a possibilidade de obstruir o acesso a ele por seus potenciais inimigos, ou seja, os americanos e aliados, dai ser estratégico para os russos manter um ponto de apoio “dominado” no mediterrâneo. Os russos passam então a apoiar Assad, entrando em oposição com a coalizão liderada pelos americanos. Eles tentam evitar o confronto direto com baixas nas forças da coalizão, porém funcionam como um “escudo” protegendo as forças de Assad e até participando de ataques tanto ao estado islâmico quanto aos insurgentes sírios (e reforçando, no meio disso tudo leva a pior partes da população civil vista como apoiadora dos rebeldes, exposta a bombardeios, sitiamentos e atrocidades como ataque químico, fora os ataques do Estado Islâmico, hoje praticamente eliminado na Síria).

Terceiro, o Brasil nessa história. Muita gente acha que o Brasil é um “eterno aliado norte-americano” e que nessa guerra o “nosso lado” é automaticamente o mesmo deles certo ?, ERRADO !.. . Apesar de obviamente não apoiarmos a violência e atrocidades de Assad, principalmente contra os civís, e também de termos uma tradicional relação de parcerias econômicas-culturais e aliada militarmente aos norte-americanos, na verdade hoje SOMOS GRANDES PARCEIROS DOS RUSSOS, e não apenas deles mas também dos CHINESES, junto com os indianos e os sulafricanos, em uma aliança econômica chamada BRICS, palavra formada pelas iniciais em inglês dos países da aliança (Brasil, Rússia,Índia,China e África do Sul), também é uma “referência irônica” à palavra “BRICK” que tem quase o mesmo som e em inglês quer dizer tijolo ou BLOCO, ou seja, potencialmente um bloco econômico como hoje é União Européia.

A expectativa é que uma vez encerrada a guerra da Síria, com a vitória de Assad apoiada pelos russos, os BRICS sejam os responsáveis pelos investimentos para reeguer e reestruturar o país, ou seja, negócios que ultrapassam os US$ 200 BILHÕES…, o que aquecerá e movimentará fortemente a economia dos cinco países da aliança, da qual faz parte o Brasil, portanto, estamos na verdade do lado dos russos, não dos norte-americanos.

Essa poderosa “aliança fora do eixo” (dos 5 países o Brasil é o único a não ter bomba atômica, apesar de também dominar tecnologia nuclear) que “ameaça” não apenas a posição européia como player global, mas também e principalmente a liderança econômica norte-americana, dai a ideia incomodar tanto lá por Wall Street e Washington… .

Quarto, e o Lula a ver com isso ?. O BRICS foi fundado em 2006, sob forte articulação e liderança do então presidente Lula, não à toa foi chamado de “O cara” por Obama e não à toa justamente dos EUA vem o maior interesse em neutralizar “O cara”… . Em uma época em que Rússia e China cada vez mais se abrem para um “capitalismo controlado”, e depois de 3 governos e meio do PT, sendo 2 de Lula no mesmo caminho e com grandes avanços sociais, só um completo alienado ou doutrinado por uma direita burra e desonesta ainda enxerga “perigos comunistas” no Brasil , vindo de Lula ou mesmo do PT, isso não existe.

O que existe é um capitalismo selvagem liderado pelos norte-americanos querendo dominar todos os recursos do planeta (com os neoliberais brasileiros, leia-se PSDB, Temer e aliados, entregando os nossos, como o petróleo do pré-sal, empresas nacionais e mercados, tudo “de bandeja” para o capital estrangeiro) e uma oposição à isso querendo tornar o Brasil em “cachorro grande” nessa briga, em “macho alfa”, não aquele subdesenvolvido que além de não “mandar” nada, ainda é abusado à vontade…, foi Lula, um “da Silva” , quem botou o Brasil nessa condição de grande “global player” (grande jogador global), e por isso não será perdoado, inclusive pela elite brasileira entreguista com “síndrome de vira-latas” e ridiculamente subserviente ao “império”.

Portanto, o interesse do Brasil como de boa parte do mundo é que a guerra na Síria e suas atrocidades acabem logo, tem gente torcendo para que seja com a queda do ditador Assad e o domínio dos americanos, porém o que se delinea é que a vitória será de Assad e dos russos, favorecendo por tabela também ao Brasil, infelizmente o preço da paz passa pela manutenção do ditador no poder, mas no momento alcançar a paz é a prioridade.

É isso…


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Para lusófonos entenderem o que está havendo no Brasil

Como tenho amigos falantes de português mas que não são brasileiros e tem dificuldades para entender o que de fato está havendo no Brasil nos últimos 3 anos (e para alguns brasileiros desinformados também), resolvi mostrar em uma sequência de notícias que se encadenam para que tirem suas próprias conclusões…

1 – Dilma, do mesmo partido, o PT, e sucessora de Lula é eleita para seu segundo mandato.

2- Aécio o derrotado, do PSDB, faz “profecias” .

3- O PSDB de Aécio resolve derrubar a presidente via parlamento.

4- Junto com aliados de outros partidos tramam o golpe parlamentar e conseguem.

5- Logo após isso Cunha é apanhado em alta corrupção e é afastado.

6- Cunha sem mandato acaba preso e sem fórum especial é condenado em Curitiba, sua esposa contudo é inocentada por “falta de provas”

7- Nesse meio tempo o processo de “impeachment” segue no Senado contra qualquer plausabilidade jurídica na acusação.

8- O “grande crime” de Dilma ( a “pedalada fiscal”, mero ajuste de orçamento, praticado por todos os presidentes anteriores) nunca antes penalizado na história do país, e da qual foi isenta por perícia do próprio senado, é liberado após seu uso de ocasião.

9- Concluído o impeachment farsesco toma posse o vice, aquele mesmo que se engajou nas articulações com o PSDB, partido do candidato derrotado nas últimas eleições o Senador Aécio Neves e Eduardo Cunha o condenado por comprovada corrupção.

10- O governo Temer é tomado por escândalos de ministros e assessores envolvidos com corrupção.

12- O próprio Presidente é apanhado em gravações e delações mas é salvo pela sua base parlamentar.

13- Aécio Neves também se complica mas segue livre e no cargo

14- Iniciado em 2016 se acentua em 2017 o Lawfare sobre Lula, que pretende voltar ao comando do Brasil.

15- Reação de Lula e questionamentos sobre parcialidade

16- Lula assume que pretende à presidência e em 2018 se acelera o processo para a condenação em segunda instância, o que por regras em questionamento no Supremo Tribunal impediria a sua candidatura e ainda o levaria à prisão antes de esgotados os recursos de apelação.

17 – E assim Lula é preso, uns lamentam outros comemoram…

“O Brasil não é para amadores” é uma expressão autoexplicativa, por enquanto é isso… seguem manifestações diversas pela prisão e contra ela e aguarda-se novos lances jurídicos que podem libertar Lula nos próximos dias.


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Pantera negra (o filme) : O que aprendemos em Wakanda ?

A partir da nossa última postagem (sobre a polêmica do “blackvoice” na dublagem do filme) recebemos uma solicitação para fazer uma resenha crítica sobre o filme em si (BAIXO SPOILER…), o interesse seria obter uma crítica a partir da visão de um ativista negro, o que certamente difere da de um espectador mais familiarizado ou preocupado com a temática dos super-heróis, da Marvel, ou do cinema em geral.

Desafio aceito, começamos por chamar a atenção para o fato do filme ter uma se não declarada, ao menos óbvia intenção afirmativa, o próprio personagem título e o fictício reino africano de Wakanda surgem timidamente no início dos anos 60 e ganham maior peso no rastro do movimento “blackexploitation” ou “blaxploitation” direcionado aos filmes, mas que atingiu também as HQs na década de 70. O fato de estar sendo chamado de filme mais politizado da Marvel não é à toa, tudo no filme caminha nesse sentido, desde a escolha do diretor (afroamericano) até a centralidade do enredo em Wakanda, o que obrigou a escalar um elenco majoritariamente afroamericano ou africano e introduzir na trama referências à valores culturais africanos que vão desde a estética até a filosofia, contrapondo a algumas  percepções afrodiaspóricas.

Passando um pouco pelo que já foi dito em todas as muitas críticas já disponíveis, o filme é excelente em imagens, figurinos, trilha sonora, efeitos, atuações, etc…, o que vale destacar é que contrariando a tradição Marvel entrega menos ação, mas quando entrega é da boa, concentrando-se porém nos diálogos e cenas que introduzem o espectador no mundo e perspectivas dos wakandianos, essa estratégia é sensacional, pois o espectador “se apropria”, torna Wakanda sua também, passa a fazer parte dela e enxergar mais criticamente “os outros” (ou seja, nós mesmos em nossas mentes ocidentais e colonizadas). Para ficar mais claro, comparemos com a Asgard de Thor, creio que pouca gente fora dos países escandinavos se identificou como “asgardiano”, mas gente do mundo todo e de todas as cores e origens se sentem ou gostariam de ser de Wakanda.

Vou me abster de comentar individualmente os personagens, isso tem por ai aos montes, importa dizer que eles mais do que estereótipos, são tal qual na tradição dos panteões mitológicos africanos, arquétipos, representações de tipos humanos com suas virtudes, defeitos e vicissitudes, aos quais tanto podemos associar outras pessoas, como nos identificar total ou grandemente. Assim como nas tradições de matriz africana, essas forças antropomorfizadas em deuses, heróis divinizados  e em arquétipos aos quais estão vinculadas as pessoas “comuns”, seguem a lógica do amoral ou de que nada nem ninguém é absolutamente bom ou mau, mas apenas circunstancialmente.

Do ponto de vista filosófico e cultural, impressiona, e é um “recado” a perfeita integração entre tradição, modernidade e tecnologia. Nesse ponto choca e dá um “tapa na cara” dos que pela mentalidade eurocentrada, não conseguem conceber que tradições tribais e cosmovisões de povos não-europeus/europeudescendentes, são valores civilizatórios que não significam atraso, inferioridade ou incompatibilidade com o desenvolvimento e as tecnologias mais avançadas. O filme também toca em questão importante na africanicidade, o respeito à ancestralidade e a espiritualidade altamente integrada à natureza, coisa talvez pouco estranha para os afroamericanos ou colonizados de todo o mundo, que acataram quase integralmente os valores e premissas judáico-cristãs, porém nem tanto para os  africanos, os afrodiaspóricos latino-caribenhos e os que orbitam a religiosidade afro. A questão de gênero não fica de fora, as mulheres poderosas, guerreiras, as relações e sinergia entre os gêneros é algo que se evidencia, referência aos efeitos da tradição matriarcal em muitos povos africanos.

O filme está cheio de metáforas, que poderão ser entendidas ou não, dependendo do grau de consciência e informação prévia do espectador, bom exemplo é a divisão das tribos que formam o povo do reino, o povo da fronteira é o que o mundo enxerga de Wakanda, terceiro mundo, um povo simples (visto como pobre), de fazendeiros e extrativistas, produtores de commodities, que trocam com vizinhos, um lugar que nada colaborou ou pode colaborar com o avançado mundo ocidentalizado. Essa não seria uma errônea visão geral que se tem da própria África em si ?, visão que ignora  o que realmente houve e há em África ?. Wakanda é a África, que a maioria do mundo desconhece, só enxerga folclórica e superficialmente e da qual não se espera nada de positivo ou útil.  Há tiradas sensacionais com a ignorância ou surpresa de quem tem uma visão estereotipada da África, tipo:

“Estamos em Wakanda ??? “

“-Não, é Kansas…”

Uma alusão à surpresa personagem Dorothy ao se ver na terra fantástica de OZ , no conhecido filme “O mágico de Oz”, ou seja, certas realidades seriam mais difíceis de crer que as fantasias criadas em torno delas, caso do continente africano. Na mesma cena é importante notar o tratamento dado ao personagem branco com um “Ei! COLONIZADOR não toque em nada…”, óbvia alusão ao estrago feito (e ainda possível) no contato dos brancos com as coisas africanas que desconheciam ou desconhecem, uma outra fala crítica no sentido da estereotipação africana e que talvez passe despercebida para muitos é justamente “Desculpe majestade, mas o que é que um país de terceiro mundo e de fazendeiros tem a oferecer ao mundo ???” .

Pantera negra dá uma “cutucada na ferida” na questão africano x afrodiaspórico, em cenas em que  os governantes wakandianos  demonstram que enxergam como seu povo apenas os próprios wakandianos, enquanto os afrodiaspóricos se enxergam panafricanamente como do mesmo povo de Wakanda, porém desconsiderados, abandonados e deixados à mercê dos colonizadores no passado e no presente, embora não exatamente, essa é uma questão atual que perpassa as reflexões nos movimentos negros. a identidade africana X afrodiaspórica. O filme também não deixa de cutucar outras questões atuais como na fala “governantes sábios constroem pontes, os idiotas constroem muros…”, para bom entendedor… .

No mais há muitos diálogos que expõem questões do campo de relações sociais e raciais, questionam estereótipos e apresentam perspectivas mais desejáveis para a vida no planeta.

Não poderia deixar de tocar brevemente na questão versão legendada X dublada, particularmente não gosto de filme dublado algum, mas esse em especial perde muito com a dublagem, pois o trabalho dos atores na incorporação de sotaques e timbres africanos é primoroso, um dos pontos altos do filme, e que se encaixa na pretensão afirmativa dele.  O modo geral de falar inglês dos africanos e também suas próprias línguas, é importante para imergir cinematograficamente em uma África mais realista e menos caricata, a dublagem brasileira simplesmente dá um bypass nisso, não se preocupa ou não consegue transpor essa africanicidade no falar para o português…, isso devido ao “blackvoice”. Bom exemplo é a personagem Shuri, a adolescente nerdíssima, irmã do Rei T’Chala e responsável pela inovação na tecnologia wakandiana, que na versão original possui uma voz algo grave e rascante, mas que na dublagem fica parecendo a de uma patricinha branca de Beverly hills… . Já nem acho mais que seria apenas o caso de melhor aproveitar timbres e vozes negras brasileiras na dublagem, sendo mais radical, fomentaria também a inclusão no mercado brasileiro de dubladores lusoafricanos, tenho certeza que as produções ganhariam muito com isso, é certo que ainda não temos tantos filmes com personagens africanos, mas as coisas estão evoluindo… .

Pantera negra é um filme que mostra possibilidades, trabalha para mudar mentalidades, tanto na trama quanto na sua própria produção, é paradigmático.

Por outro lado, acaba por mostrar o quão distantes estão a realidade americana e a brasileira, enquanto nos EUA a repercussão tem clima de avanço e crítica virtualmente toda positiva (não falemos da esperada reação “whitetrash”), no Brasil se abrem polêmicas e críticas em todas as direções, algumas justificadas e outras vazias ou de puro reacionarismo, provando que temos problemas de representatividade que ainda são subterrâneos, ou seja, pouco visualizados, e temos também um metaracismo galopante, que se apresenta na forma de críticas aos que problematizam o filme a partir de uma perspectiva das relações raciais, essa reação é percebida sempre e principalmente nas caixas de comentários, o melhor observatório do racismo brazuca.

Enfim,  já sou mais um cidadão de Wakanda.