Apesar de enquanto especialista em EaD obviamente ter um lado claro contra esse tipo de ataque, enquanto ativista negro me considero insuspeito para dizer que esse tipo de manipulação é desnecessária e prejudicial à causa negra, já que mais cedo ou mais tarde é demonstrada falaciosa, e com isso se perde credibilidade por conta de “forçação de barra neoativista”. Sinceramente não gosto, nem acho produtivo, ter que “atirar” contra os manos e manas, mas o pessoal não ajuda… .
Estou falando dessa matéria publicada no “Alma preta”.

O que esse lead dá a entender é uma generalização absurdamente falaciosa.
Quando vemos por exemplo uma outra pesquisa ampla e recente temos o seguinte:

Mais do que claro portanto que em linhas gerais seria IMPOSSÍVEL ter 2/3 dos negros (pretos+pardos) que compõem mais de 56% da população, ou apenas dos estudantes negros, sem acesso mínimo a internet e consequentemente sem condições de estudo remoto.
Já o estudo citado na matéria diz ter utilizado microdados dos inscritos no ENEM 2019. O que não diz é o quanto os estudantes que se inscreveram no ENEM correspondem populacionalmente, tampouco a representatividade populacional dos aproveitados via ENEM no ensino superior, o que seria importante para se ter uma ideia geral de exclusão provocada por falta de acesso a tecnologia.
Por outro lado a própria matéria diz textualmente:
“Segundo o estudo, realizado a partir de microdados do Enem do ano passado, entre todos os estudantes que compareceram nas provas, 21% não tinham estrutura mínima para estudar à distância. Desses 21%, quando se trata dos candidatos negros – pretos ou pardos – essa proporção sobe para 27,72%. Para indígenas, o número é de 39,58%. No caso de brancos, a taxa cai para 11,29%.”
Mesmo que o lead esteja falando de inscritos para o ENEM e o conteúdo dos que EFETIVAMENTE compareceram às provas, no geral 21% informaram não ter o acesso internet, se considerados pretos e pardos passa para quase 28%, o que é compatível com os dados gerais de que 25% da população é excluida do acesso, não é um percentual baixo, tampouco que ignora a maior exclusão entre negros, mas daí a falar em “70% dos estudantes negros” vai longa distância.
Outro ponto é a insistência em que essa exclusão computacional e de internet, inviabiliza o EaD. Dupla falácia, primeiro porque a esmagadora maioria, mais de 70% TEM ACESSO, mesmo entre os negros. A segunda é devido ao fato que EaD não se faz apenas ONLINE…, aqui no Amazonas por exemplo tivemos muito bem sucedida experiência de preparatório pré-vestibular popular feita pela TV pública e com fascículos semanais encartados no jornal de maior circulação.
Ou seja, novamente vemos um ataque a EaD enquanto modalidade, agora travestido de “preocupação” com a exclusão racial, antes falavam em pobreza em geral, mas parece que não estava fazendo muito efeito…, Aliás já fiz postagem sobre isso
A “preocupação” metapreconceituosa e o recurso ao “under class” contra a EaD na pandemia
Volto a insistir, meu ponto de vista não ignora que haja exclusão, mas não admite que ela tenha a extensão que alguns pretendem dar, ou que a mesma seja causada meramente pela aplicação da modalidade. Se ela existe fora ou dentro do contexto pandêmico é justamente pela falta de investimento público e preparação para utiliza-lá proveitosa e democraticamente, que é o que deve ser cobrado. Bem diferente de quem na verdade só pretende atacar a modalidade se utilizando de confusão, e sensibilização piegas.
Quanto ao ENEM 2020, acho impróprio, não por essa argumentação falaciosa de “falta de acesso”, mas pelo contexto pandêmico e consequências pela surpresa e falta de preparo geral para lidar com elas.