Blog do Juarez

Um espaço SELF-MEDIA


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DE EMPRESÁRIO À EX-GARÇOM EM UM DIA…

Nenhum problema ser garçom ou ter sido, é uma digníssima ocupação. Mas me diga aí se não é estranhíssima essa “qualificação” que praticamente toda imprensa tem usado direto para o empresário preso e investigado por suspeitas muito fundadas de crimes financeiros, e que não tem saído do noticiário desde a semana passada?🤔

Tudo bem que é raríssimo, ver notícias que juntam pessoas negras e bilhões de reais em uma mesma matéria (mesmo que em notícias policiais), mas por que essa insistência em destacar essa ex-ocupação? Se há anos a pessoa para o bem ou para o mal se ocupa e é reconhecida socialmente como empresário, também foi pastor da IURD…, mas ninguém se refere à ele em lead jornalístico como “ex-pastor”.

Fica mais estranho ainda quando em situação parecida recente, a do “Rei do Bitcoin”, não se vê nenhuma outra referência ao investigado que não seja empresário ou “Rei do Bitcoin”… .

Outro dia escrevi sobre a “resistência” que muita gente opõe à pessoas negras associando a imagem à publicidade do luxo, ou mesmo às meras aspirações ao luxo e poder, como se essa humana característica, não pudesse pertencer aos historicamente estigmatizados.

Apesar dos contextos absolutamente distintos, parece que o tipo de “resistência” é o mesmo…, a pessoa muda de profissão, fica rica (e aí não está em questão os meios) movimenta 38 BILHÕES de Reais, em 6 anos, mas não pode ser visto e referenciado como nada além de um “ex-garçom”… . O que é que o “Rei do Bitcoin”, que é branco, era mesmo antes de virar “Rei do Bitcoin” ??? 🤔 (silêncio ensurdecedor…)


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Djamila e a bolsa da Prada, problema para você? Para mim não…

Postagem de rede social

Só vendo a geral criticando a Djamila Ribeiro, negra formada em Filosofia, Professora, Ativista e que fez sucesso como escritora e editora na temática do racismo e feminismo. Bora se atualizar gente… A luta negra não é uma luta socialista, ela é integracionista…, não defendemos resumir a pirâmide de Maslow apenas ao seu centro, embora a redução da sua base com o aumento da mobilidade social e redução drástica da pobreza e miséria, independente de recortes, seja uma luta compatível e embutida. A luta negra é pelo direito de não ser limitado em nenhum aspecto pela cor/origem, assim como a luta do feminismo, não é em essência uma “luta contra o capital” mas sim contra a hegemonia excludente.

Não dá para deixar de observar que as críticas tem um viés também racista, mesmo que inconsciente, muita gente acha que negro e luxo são coisas incompatíveis, e quando se juntam atraem questionamento e atenção que não é dada quando não se trata de pessoa negra. Outro ponto é a crítica socialista, que não consegue desvencilhar ativismo de luta de classes segundo paradigmas marxistas, o que está longe de ser um real enquadramento do que é ativismo.

Já cantavam os Titãs… em “Comida”

“A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte

A gente não quer só comida
A gente quer bebida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer”

Se você é millenial e não conhece o sucesso do rock brasileiro dos 80 segue o link do clipe: https://youtu.be/hD36s-LiKlg

Para fechar esse primeiro bloco lógico, o que quero marcar é que a maioria da crítica tem fundo na verdade em uma observação que já foi sistematizada faz tempo:

Segundo (Blumer, 1939) “São quatro os sentimentos que estarão sempre presentes no preconceito racial do grupo dominante: (a) de superioridade; (b) de que a raça subordinada é intrinsecamente diferente e alienígena; (c) de monopólio sobre certas vantagens e privilégios; e (d) de medo ou suspeita de que a raça subordinada deseje partilhar as prerrogativas da raça dominante.

Sigamos, não fulanizar a questão portanto é importante, pois não é iniciativa pessoal nem só a Djamila a entrar nessa, é um fenômeno mundial. A publicidade do luxo é que mudou a linguagem para se adaptar aos valores dos millenials, que sim, ainda gostam de luxo, mas querem equilibrar isso com algum link com justiça social. (Paradoxal ? pode ser, mas é a realidade que o mercado enxergou, e não vai se desviar dela 🤷🏿‍♂️)

⬆️Chamada de matéria sobre o assunto na Veja

Alguém lembra da posse do Biden? Teve uma jovem ativista e poetisa negra que “roubou a cena”, Amanda Gorman, formada em Harvard e que estava vestida de Prada dos pés à cabeça… vide: https://youtu.be/zzPl4TXMK0g

Tem gente “temendo” que em breve Djamila apareça fazendo publicidade de plataforma de investimento, como se isso fosse um “pecado imperdoável”, o que é uma grande bobagem. Eu sou negro, ativista tem quase 35 anos, sou investidor na bolsa americana, nacional e em criptmoedas… e não teria problema nenhum em fazer publicidade para uma plataforma de investimento (alô mercado publicitário estamos aí viu ? 😉)

O problema da geral é não entender que lutar por igualdade é lutar pelo direito de não ficar só no gueto, de poder fazer e usufruir o que a capacidade de cada um possibilitar, sem ser limitado por preconceito, discriminação e desigualdade… .

Ativista não faz voto de pobreza, nem vive só de ativismo, a gente só quer a mobilidade social sem impedimentos artificiais… Afinal “A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte, a gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade” 😉.


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O CORONEL “CORTA CABEÇAS” X O ATOR PAULO GUSTAVO, UMA ESCOLHA DIFÍCIL ?

Umas semanas atrás citei em uma matéria jornalística sobre a substituição de nomes de ruas, o caso da troca em Niterói do nome da rua Cel. Moreira César (um paulista de Pindamonhangaba também conhecido por “o cortador de cabeças”), pela do ator Paulo Gustavo (nascido e criado na região da rua que agora leva seu nome). Apesar de ter sido uma iniciativa de apoio popular, era esperado a reação dos acomodados, acríticos e também uma disputa de narrativa/memória no nível ideológico.

Qual o sentido em manter o nome de um militar notabilizado por sufocar revoltas populares, violência extrema, assassinato de jornalista, morte e decapitação de tantos ? (vide no link https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/coronel-moreira-cesar-o-cortador-de-cabecas-da-republica-velha.phtml )

Não é só “acomodação”, não tem nada a ver com “prejuízo do comércio”, que terá isenção de gastos nos ajustes cadastrais, é parte da defesa de valores inaceitáveis para a maioria da sociedade hoje, mas muito em voga no contexto atual de ode ao militarismo e milicianismo, violência repressiva, discriminação e também uma contraposição aos símbolos e valores não conservadores/elitistas da atualidade. Um triste sinal dos tempos de inversão moral que vivenciamos.

Link para a matéria em que colaborei: https://amazonasatual.com.br/tirar-nomes-de-militares-de-ruas-em-manaus-gera-impasse-entre-moradores-e-reparacao-historica/


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Luana Araújo, negritude e silêncios

Reprodução do Instagram pessoal

No embalo da CPI da Covid surgiu uma nova “musa” nacional, ou melhor amplificou-se em muito uma condição ou vocação de certo pré-existente mas em escala muito menor.

No caso o termo musa se aplica bem em seu sentido de ser feminino algo “divinal” filha de Zeus e Mnemosis, eram nove as musas inspiradoras e matronas das artes e ciências (e ela é uma cientista e também artista) mas também no sentido coloquial de mulher bela e cativante.

O texto, não tem como objetivo fazer loas à cientista, que “lavou a alma” do país (bom, ao menos da maior parte dele) ao com desenvoltura abalar os alicerces do negacionismo e anticientíficismo do governo federal e apoiadores. Escrevo ao perceber um estranho silêncio generalizado sobre a identitarização racial da Dra. Luana, que como já dito, além de cientista de alto nível, também tem talentos artísticos e midiáticos. Não que seja interessante a racialização de tudo e todos. Com pessoas brancas por exemplo esse é um ponto tocado apenas quando acontece algo que clame claramente uma questão de discriminação ou privilégio em relação a outros, não é o caso de pessoas não-brancas que em tudo e por tudo dificilmente escapam de alguma observação nesse sentido, mesmo gratuita.

Pois bem, é estranho que (ao menos eu não vi) não tenham tocado no assunto, nem para “colar afirmativamente” e reinvidicar nela uma negritude inspiradora, tampouco por ao contrário agregar “desqualificação velada” pela não-brancura, o que pode ter sido substituído cinicamente pelo tratamento de “cantora” adjetivado de “frustrada” feito por alguns obviamente negacionistas descontentes e não de Doutora…

Que a Dra. não é branca é óbvio, a “marca” como diria Oracy Nogueira está lá bem colocada em traços, como lábios, cabelo, tom de pele…, mas também na pegada artística, um tanto “black” em um sobrevôo mais atento. Então qual o motivo do silêncio ? Um mistério…

Em uma visita ao seu Instagram, que decididamente é de “popstar” mesmo que incluindo toda a verve científica, se apura que ela apesar de não “levantar bandeira”, admite a sua origem negra, e até com um certo “proud”, mas aí vai por um caminho de “coluna do meio”, tipo “nem branca nem negra” seguida de uma ode à miscigenação, referências comemorativas ao 13 de maio, loas à Princesa Isabel, enfim tudo que se enquadra em um perfil alheio ao de consciência negra, mais alinhado com o do conservadorismo metarracista (que se diz antirracista, mas na verdade vai contra as premissas e interesses do verdadeiro antirracismo)

Reprodução do Instagram

A nossa problematização passa longe de querer cobrar de A ou B uma pertença identitária compulsória, mas questionar o porque a heteroidentificação silencia em alguns casos, assim como a autodeclaração busca uma providencial “coluna do meio”, enquanto em outros casos a pouca marca não impede a autoidentificação enquanto pessoa negra e não como miscigenada.

Creio que são três os principais problemas, o primeiro uma tentativa consciente ou inconsciente de fugir da estigmatização por ser negro(a), o segundo uma introjetada ideia do dito “mito da democracia racial” combinado com um ideal romântico da miscigenação, não percebida como grandemente fomentado por uma antiga política nacional de branqueamento da nação, e terceiro e por fim, pelo desconhecimento dos termos e conceitos que definem as identidades. Por exemplo, a ideia equivocada que negro e preto são sinônimos (quando não são) e que pardo é uma identidade intermediária e independente da negra.

Por economia textual, não vou detalhar bem aqui esses termos e conceitos, remetendo à um outro texto meu específico Entendendo finalmente a diferença de preto para negro, o que vou sucintamente marcar aqui é que PRETO(A) é quem parece um africano não miscigenado ou de pouca miscigenação (o meu caso, que em África só era notado como “gringo” quando abria a boca para falar) NEGRO(A) é quem tem ascendentes trazidos no tráfico negreiro transatlântico, ou seja, escravizados. Portanto ser negro(a) não é uma questão apenas de marca mas principalmente de ORIGEM, é negro(a) quem descende de negros (independente de ser ou parecer miscigenado).

A questão da miscigenação

A Antropologia, mas antes a prática social, se rende ao chamado conceito ou “Lei de Marvin Harris” antropólogo norte-americano falecido em 2002, que pesquisando povos de todo o mundo identificou que invariavelmente o produto de miscigenação étnico-racial é socialmente alocado no lado menos hegemônico e socialmente valorizado de sua múltipla origem, a chamada HIPODESCENDENCIA. Ou seja, no caso uma pessoa não-branca, jamais é alocada socialmente enquanto branca ou mesmo “mista”, exceto caso ela não possua qualquer marca fenotípica que denuncie parte de sua origem estigmatizada e quando o racismo não é o chamado de origem, aonde basta a desconfiança de uma origem estigmatizada para que a pessoa sofra o preconceito e discriminação. No Brasil o racismo é de marca (aparência) muito mais que de origem. Não sei o que a Dra. apurou sobre isso de sua experiência fora do país, mas normalmente é sempre uma “surpresa” e abalo das percepções brazucas de autobrancura ou “meiabrancura”.

Outro ponto é que sendo sabido que biologicamente não há diferentes raças entre humanos, os quais formam uma espécie única, o homo sapiens, a ideia de “mestiço” ou “mistura” da mesma coisa com a mesma coisa é uma falácia teórica.

Tenho certeza que a agora nacionalmente aclamada cientista, à luz da ciência, mesmo que não sejam as do seu metier, haveria de concordar que a ideia de “nem black nem white” é anticientífica, é mais ideológica, vinda de uma política nacional de branqueamento eugenica e escamoteamento de nossas desigualdades sociais de origem racial e psicológico de evitamento da dor da estigmatização. Talvez diante da base científica para reinvidicar sua negritude até se sentiria feliz por poder fazer algo que na alma de artista até já lhe tenha passado.

Aliás, o texto é uma carta aberta, não é pessoalmente direcionado, é para reflexão pública e aproveitamento da informação por quem se sentir nesse “limbo”.


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“Questão Netto”, mais um pouco de Luiz Gama

Matéria na BBC dá conta de uma ação coletiva de alforria pouco conhecida, na qual Gama foi Patrono. A “Questão Netto”

Marcando aqui a hiperligação direta para o texto.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57014874


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Beyoncé e o retorno às raízes

Me dá um desalento essas “idas e vindas” das discussões dos movimentos negros. Tudo bem que as novas gerações não estavam no planeta quando isso estava “quente”, por isso acham que vários assuntos são novos, acham quem estão avançados ou “pisando terreno novo”.

Por isso que é importante a memória. Faz parte da essência afro o ouvir os mais velhos, os que vieram antes, o conceito de “griot” que vai muito além da contação de histórias. Importante seria que todo mundo buscasse a história dos movimentos, a evolução dos paradigmas e demandas na população ao longo do tempo, antes de  “reiventar a roda” e achar que está sendo “original”.

Vendo o povo às turras por conta do filme da Beyoncé, discutindo se a mensagem de “retorno à África” (mítica)  é literal ou “filosófica”, de resgate de raízes e conhecimentos.  Se estivessem no planeta e conscientes 40 anos atrás, lembrariam da banda norte-americana ODISSEY performando “Going back to my roots” (“Voltando às minhas raízes) e teriam a resposta… :

“To the place of my birth
Back down to earth
Ain’t talkin’ ‘bout no roots in the land

Talkin’ ‘bout the roots in the man
I feel my spirit gettin’ old
It’s time to recharge my soul”

Tradução: “Para o local do meu nascimento
De volta à terra (planeta)
Não estou falando sobre raízes na terra

Falando sobre as raízes do homem
Eu sinto meu espírito ficando velho
É hora de recarregar minha alma” .

Obviamente se está falando de valores ancestrais DA HUMANIDADE INCIPIENTE, que surge em África… uma África mítica, que não necessariamente é a terra africana atual, que também passou por processo eurocentrico e perdeu boa parte da cultura e filosofia originária. Não uma filosofia e lógica perversas e destrutivas  como as que temos no ocidente, mas como os vestígios que ainda encontramos no UBUNTU ou nas cosmovisões que sobreviveram em África e na diáspora africana.

Cabe lembrar, que para o afroamericanos, que foram muito mais colonizados mentalmente, a ponto de normalmente não terem referências culturais e espirituais “africanas”  como nós afrodiaspóricos temos, essa busca de raízes africanas é muito mais distante, longa e complicada. Daí que tendem a ir ainda mais distante no tempo e espaço para encontrá-las…

O texto da burundiana Judicaelle Irakoze expressa uma posição jovem mas que não “joga a criança fora com a água da bacia”, traz uma visão muito sensata de como o resgate da africanidade deve ser encarado: “Por que devemos ter cuidado ao assistir ‘Black Is King’ de Beyoncé” https://medium.com/@allankardecpereira/por-que-devemos-ter-cuidado-ao-assistir-black-is-king-de-beyonc%C3%A9-eead653fa9ac


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Babalawo Marcio Obeate, agora no YouTube, explica o Ifá.

Se você busca conhecer as religiões de matrizes africanas, o Culto de Ifá e seu profeta Orunmila, com seriedade e uma sólida base de informações, visite o canal deste sacerdote.

Consagrado babalawo (pai do segredo) na maior Rama da Tradição Afro Cubana de Ifá do Brasil, o jornalista Marcio Alexandre Martins Gualberto, um reconhecido ativista das causas sociais, adotou o nome religioso de Babalawo Obeate Ifairawo e ao longo dos últimos anos vem divulgando textos onde busca desmistificar algumas ideias pré concebidas deste e de outros cultos oriundos do continente africano. 

Ifá é um dos mais antigos sistemas oraculares da humanidade tendo sua origem no continente africano desde tempos imemoriais. Regido por um Orixá, ou profeta, chamado Orunmila, Ifá conecta o ser humano ao seu destino e, como culto dá à pessoa instrumentos para lidar com as dificuldades cotidianas para viver bem o seu destino. 

O destino do ser humano é revelado através dos odus de Ifá que são 256 que se combinam e recimbinam até chegar ao infinito, dando assim à pessoa que se inicia a bula de sua vida, ou seja, as orientações para evitar os osobos (negatividades) e fortalecer o Ire (positividade). 

O Babalawo Obeate Ifairawo mantém sua família religiosa com cerca de cinquenta afilhados no bairro de Pedra de Guaratiba, Rio de Janeiro e de lá propaga o culto de Ifá para todo o país, tendo entre seus afilhados pessoas que vivem no Amazonas, Bahia, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Portugal.

Visando dar mais objetividade às suas ações, Marcio Alexandre inaugurou seu canal, Babalawo Obeate Ifairawo e onde serão postados vídeos curtos abertos ao público e palestras privadas somente para aqueles que buscam ter um conhecimento mais profundo do culto de Ifá e da Tradição Afro Cubana. 

Para maiores informações:

Contato: 21982421476

Link do canal: https://youtu.be/XI6WmJFtjE4


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Como fazer um lead falso, alarmista e impreciso antiEaD usando negros para sensibilizar.

Apesar de enquanto especialista em EaD obviamente ter um lado claro contra esse tipo de ataque, enquanto ativista negro me considero insuspeito para dizer que esse tipo de manipulação é desnecessária e prejudicial à causa negra, já que mais cedo ou mais tarde é demonstrada falaciosa, e com isso se perde credibilidade por conta de “forçação de barra neoativista”. Sinceramente não gosto, nem acho produtivo, ter que “atirar” contra os manos e manas, mas o pessoal não ajuda… .

Estou falando dessa matéria publicada no “Alma preta”.

O que esse lead dá a entender é uma generalização absurdamente falaciosa.

Quando vemos por exemplo uma outra pesquisa ampla e recente temos o seguinte:

Mais do que claro portanto que em linhas gerais seria IMPOSSÍVEL ter 2/3 dos negros (pretos+pardos) que compõem mais de 56% da população, ou apenas dos estudantes negros, sem acesso mínimo a internet e consequentemente sem condições de estudo remoto.

Já o estudo citado na matéria diz ter utilizado microdados dos inscritos no ENEM 2019. O que não diz é o quanto os estudantes que se inscreveram no ENEM correspondem populacionalmente, tampouco a representatividade populacional dos aproveitados via ENEM no ensino superior, o que seria importante para se ter uma ideia geral de exclusão provocada por falta de acesso a tecnologia.

Por outro lado a própria matéria diz textualmente:

“Segundo o estudo, realizado a partir de microdados do Enem do ano passado, entre todos os estudantes que compareceram nas provas, 21% não tinham estrutura mínima para estudar à distância. Desses 21%, quando se trata dos candidatos negros – pretos ou pardos – essa proporção sobe para 27,72%. Para indígenas, o número é de 39,58%. No caso de brancos, a taxa cai para 11,29%.”

Mesmo que o lead esteja falando de inscritos para o ENEM e o conteúdo dos que EFETIVAMENTE compareceram às provas, no geral 21% informaram não ter o acesso internet, se considerados pretos e pardos passa para quase 28%, o que é compatível com os dados gerais de que 25% da população é excluida do acesso, não é um percentual baixo, tampouco que ignora a maior exclusão entre negros, mas daí a falar em “70% dos estudantes negros” vai longa distância.

Outro ponto é a insistência em que essa exclusão computacional e de internet, inviabiliza o EaD. Dupla falácia, primeiro porque a esmagadora maioria, mais de 70% TEM ACESSO, mesmo entre os negros. A segunda é devido ao fato que EaD não se faz apenas ONLINE…, aqui no Amazonas por exemplo tivemos muito bem sucedida experiência de preparatório pré-vestibular popular feita pela TV pública e com fascículos semanais encartados no jornal de maior circulação.

Ou seja, novamente vemos um ataque a EaD enquanto modalidade, agora travestido de “preocupação” com a exclusão racial, antes falavam em pobreza em geral, mas parece que não estava fazendo muito efeito…, Aliás já fiz postagem sobre isso

A “preocupação” metapreconceituosa e o recurso ao “under class” contra a EaD na pandemia

Volto a insistir, meu ponto de vista não ignora que haja exclusão, mas não admite que ela tenha a extensão que alguns pretendem dar, ou que a mesma seja causada meramente pela aplicação da modalidade. Se ela existe fora ou dentro do contexto pandêmico é justamente pela falta de investimento público e preparação para utiliza-lá proveitosa e democraticamente, que é o que deve ser cobrado. Bem diferente de quem na verdade só pretende atacar a modalidade se utilizando de confusão, e sensibilização piegas.

Quanto ao ENEM 2020, acho impróprio, não por essa argumentação falaciosa de “falta de acesso”, mas pelo contexto pandêmico e consequências pela surpresa e falta de preparo geral para lidar com elas.


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COMO SURGE UM FACTÓIDE HISTÓRICO-IDENTITÁRIO

😒

1-Alguém vai à uma exposição em um espaço afro (provavelmente no Chile) e vê um quadro com uma mulher negra amamentando um negro adulto e preso por grilhões. Não se sabe se alguém ali “explica” o quadro como uma prática comum dos tempos da escravidão, ou a própria pessoa é quem interpreta assim e publica foto em um site ou perfil de uma organização “afrocultural” chilena, o que faz parecer “confiável”.(atualização: antes de chegar ao perfil chileno a imagem com o texto aparece a primeira vez em uma publicação online da revista AFROCOLOMBIANA Negarit em Setembro de 2016)

2- Um perfil brasileiro do Instagram “especializado em História e entretenimento” reproduz… sem maiores verificações o conteúdo chileno e um outro perfil brasileiro e respeitado reproduz a reprodução… .

3- Tal perfil tem uma “pegada” de “apoios identitários”, ou seja, com muitos seguidores que se entendem “ativistas” ou simpatizantes de causas como a negra, feminista, feminista negra, indígena, LGBTTQIA etc…, que por sua vez acrescentam aos comentários suas próprias pautas e visões, por exemplo “a força da mulher negra ‘salvando’ os homens negros desde os tempos do cativeiro”, logo aparece o discurso da “ingratidão dos homens negros” e óbviamente o da “solidão da mulher negra”(atribuída sempre e somente aos homens negros…, jamais ‘cobrada’ dos homens brancos ou aventado o evitamento de homens negros pelas próprias negras 😒).

4- Tais “seguidorxs” então começam a replicar em suas redes sociais a “descoberta histórica” junto com suas análises identitárias… e a coisa se espalha.

5- Aí vem um “historiador chato” (eu 😏) que diz “PERA AÍ”, eu enquanto bem familiarizado com o tema nunca ouvi falar disso e tem coisa errada ai… a começar por detalhes na imagem como o traje da suposta escravizada negra. Aí com cinco minutos de rastreamento e pesquisa web está “morta a questão”…

O tal quadro é apenas uma “versão negra” do antigo conto romano de Pero e Cimon… 🤔, filha que amamentava o pai preso ao visita-lo para que não morresse de fome… . O que inspirou uma série de obras de arte sobre o tema ao longo do tempo, conhecidas genéricamente como “Caridade Romana”… . NÃO TEM NADA A VER COM ESCRAVIDÃO NEGRA, muito menos dá “suporte” para as N ilações identitárias que quiseram “colar” a partir da imagem….

“BORA” SER MAIS RESPONSÁVEIS ANTES DE SAIR REPOSTANDO TUDO QUE VÊ só porque a fonte parece confiável ou “engajada identitariamente”… 😒 #fakenews #fakeolds #fakehistoria

🚨EM TEMPO: o perfil de alta visitação que viralizou o fake RETIROU a postagem em função do nosso esclarecimento. 😉


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O meu movimento negro sou eu, ou, de novo a Glória Maria ?

Glória Maria em entrevista a Pedro Bial

Hoje a “bolha negra” da web tupiniquim amanheceu com mais uma “treta” relacionada a prestigiada repórter e apresentadora da poderosa rede Globo. Desta vez, uma fala em entrevista ao “Conversa com o Bial” em que mais uma vez questionada sobre “movimento negro” deu resposta que não agradou muito aos ativistas, militantes e simpatizantes de tais movimentos.

Não vou falar especificamente dessa entrevista, mas vou usar um trecho de outra entrevista, escrita, que saiu hoje . Nela temos “Costuma dizer que a televisão é um acidente de percurso. Mas não se arrepende de nada, tampouco de não ter levantado bandeiras em nome do movimento negro, embora já tenha sido cobrada por isso. ‘O meu movimento negro sou eu. Basta olhar para mim, sempre brigando, sempre correndo atrás’, diz. ‘Eu sou, literalmente, a ovelha negra do jornalismo.’ Glória Maria fala com a autoridade de quem teve de enfrentar o racismo em diversos momentos de sua carreira.”

Glória Maria em uma “vibe Luis XIV”, monarca francês famoso pela frase “O Estado sou eu”, uma “egotrip”, faz a sua própria ao dizer “O meu movimento negro sou eu”. Não é a primeira vez que “desdenha” ou critica os movimentos e ativistas, pelo menos no que diz respeito a ela própria.

Com meus 32 anos de ativismo negro, sei perfeitamente que ninguém, em nenhum recorte social, é “obrigado” a ser ativista ou militante pela causa, por simplesmente pertencer a um recorte. Aliás, ativistas são sempre pequena parte de cada recorte, os que lutam não apenas pelos próprios interesses, mas principalmente pelos da maioria inconsciente ou apática.

Eu mesmo não concordo com muitas coisas que vem de alguns ditos “militantes” ou “ativistas” equivocados, “lacrador@s”, principalmente os que costumo chamar de neoativistas. O que apesar de ter uma questão geracional, não limita os equivocados a uma ou outra geração, os há em todas.

O problema das recorrentes falas de Glória Maria é que, sendo ela quem é, ao “personalizar” a sua luta e desdenhar as demandas coletivizadas pelos movimentos, reforça a ideia metarracista de que “o que vale é apenas o ‘mérito pessoal’ “, que “cada um que lute” abrindo por si e apenas para si um caminho em meio a estrutura racista. O que no mínimo revela insensibilidade, inconsciência e egoísmo, além de efetivamente “dar munição” aos metarracistas que combatem as mudanças coletivizadas no Status Quo.

Já li que ela, Glória Maria, recorreu à Justiça por ter sido discriminada, será que foi o “movimento negro ela mesma” que lutou e conseguiu emplacar o racismo e a injúria racial como crime ?

Novamente repito, nem Pelé, nem Glória Maria, nem outra pessoa negra que tenha excepcionalmente rompido barreiras na estrutura racista, é “obrigada” a “levantar bandeiras”, mas deveria pelo menos ter o cuidado de não servir de “token” para o discurso da “democracia racial” e para o metarracismo, prejudicando a luta dos demais, que não ficam satisfeitos em ser bem sucedidas exceções… .

Que Glória Maria se recupere bem de todos os percalços pelos quais passou recentemente, e que siga sua trajetória de sucesso, mas que fique registrado que ela é da turma do “Me, Myself and I”… . Se não é um “Sérgio Camargo”, que é uma completa vergonha para a negritude brasileira, ao servir ativa e descaradamente ao metarracismo brazuca, também seu lugar na história não é ao lado dos que lutaram para além do próprio umbigo… .